Um mês na vida do “Kayak The Kwanza”: O que fizemos realmente?

Muito obrigado a Mario Pinho (https://twitter.com/maa_pinho) para a tradução!

Desde a nossa volta à Luanda eu tenho vasculhado as filmagens da nossa viagem e pensei que gostariam de ver algumas imagens mostrando o que tramamos (e que estará no documentário). Tentei manter tudo em ordem cronológica. Dsculpem pela qualidade das imagens! No total navegamos 984,9Km. A distancia viajada (de kayak, andando e carregando): 1303Km.

1. Planning on mac laptop

Preparando o caminho: O Alfy passou meses antes da nossa partida a examinar fotografias de satélite para escolher uma rota adequada e identificar os perigos.

2. packing at alfys flat.JPG

Fazer as malas: O equipamento foi comprado em várias partes do mundo, organizado no Reino Unido e por fim invadiu o apartamento do Alfy em Luanda. Parecia que tinha explodido lá uma bomba antes da viagem!

3. Driving out to source.JPG

Guiando até a nascente: Saímos de Luanda ao Huambo de avião pela companhia área nacional, a TAAG (que partiram o nosso frasco de molho Tabasco, malditos!) Daí, fomos levados pela HALO Trust até à nascente do rio, 25 Km nordeste da vila Mumbwé.

4. Source of Kwanza.JPG

Começando o percurso: A nascente do rio está a esquerda esta imagem, mascada por postes de madeira. Esta é uma das poucas fotos que tiramos do nosso drone DJI Phantom 3, antes de quase “morrer” no naufrágio!

5. fixing up buggy.JPG

Arranjando o buggy: Os primeiros 55 Km do percurso foram caminhando da nascente ao Soma Kuanza, onde o rio era largo o suficiente para se navegar. Tínhamos 105 Kg de equipamento, que fooi transportando com um carro de papagaios (kite buggy) modificado. Na foto, estamos a fazer modificações de última hora usando paus para aumentar a capacidade de carga. Prestem também atenção ao nosso “conjunto” de calções e meias brancas.

6. Dragging cart good view.JPG

Arrastando o equipamento: Os dois primeiros dias foram difíceis. Como se vê na foto, a maioria da estrada era de areia profunda que reduziu a nossa velocidade média a 2 Km/h em secções!

7. Dragging cart.JPG

Mais arrastos: Aqui íamos começar a puxar o carro por  uma subida muito íngreme. Mal sabíamos que esta seria a última vez que usaríamos o drone em toda a viagem.

9. Cocky at the entry point.JPG

Celebridade no ponto de entrada: As autoridades locais de Soma Kuanza guiaram-nos com confiança a um ponto de entrada para o rio que parecia excelente…

10. Reeds everywhere.JPG

Desespero no ponto de entrada: Afinal quando os moradores da zona nos disseram “é  com certeza navegável daqui para frente”, o que queria dizer era “é limpo por um bocado, depois cheio de caniços, à beira do destastre nos próximos 30 Km”. Os nossos dois primeiros dias de kayak não foram uma experiência nada divertida, graças aos insectos locais principalmente.

11a. Putting up the tent.JPG

Acampando: Passamos muitas das nossas noites no princípio da nossa jornada acampando no meio de nada, sem quaisquer sinais de civilização à volta. Aqui estou eu preparando a minha tenda Country Zephyros 1. Resumindo o meu review do equipamento por vir: não comprem esta tenda. É cara, pequena e com várias fugas horríveis.

11b. Camping in a hut.JPG

Dormindo no interior: Mais adiante na nossa jornada havia mais comunidades à beira do rio. Foram todas muito acolhedoras e algumas até nos deixaram dormir em cabanas livres, ao invés de temos que montar as nossas tendas.

11c. Cuca on the fire.JPG

Angola está a gelar: Eu e o Alfy tivemos muitas dificuldades para encontrar dados precisos para as secções mais remotas do percurso. Julgamos que o mais frio que fossemos encontrar seriam 7ºC. Estávamos errados! Caiu abaixo de 0ºC em muitas noites, e acordamos com pingentes de gelo nas nossas tendas. À noite e de manhã era essencial fazer fogo para nos mantermos quentes a secar as roupas molhadas. Alfy também sofreu à noite pois só tinha um saco-cama para duas estações!

11d. Alfy by campfire in dark.JPG

Fogo faz tudo melhor: Tivemos uma rotina inalterável durante a noite: chegar antes do por-do-sol e apressar para tentar acender uma fogueira antes da temperatura baixar.

12. Alfy next to fire.JPG

Ficando fumado: Outra coisa boa do fogo era manter os insectos longe de nós. Quando chegássemos aos locais de acampamento à noite éramos completamente “mastigados”. A situação era pior nas secções mais baixas do rio, onde era mais quente.

13. GPS system.JPG

Viva o GPS: Não tenho ideia do que seria de nós sem o nosso GPS. Graças à Deus que não foi levado quando afundamos. Como nenhum de nós tinha um relógio ou telefone funcional durante a maioria da viagem, ele também se tornou na nossa única maneira de saber o tempo.

14. Us kayaking.JPG

O Kayaking: Em secções do rio que eram limpas, o nosso dia era muito simples. Acordar às 4:45, arrumar o equipamento, partir pouco antes do nascer do sol e remar até pouco antes do por-do-sol. Também comíamos enquanto o rio nos levava e não saímos do kayak durante todo o dia. O nosso record foi percorrer 70 Km em um dia, que envolveu cerca de 11 horas de remo. A nossa velocidade média variou entre 5 Km/h e 8 Km/h, e foi muito dependente da velocidade do vento, do fluxo do rio, obstáculos e de como nos sentíamos.

14c. Alfy with biltong.JPG

Nutrição desportiva: Fazer tanto exercício todos os dias significava um grande apetite. Infelizmente, por causa do peso, não podíamos levar muita comida. Almoço foi um assunto interessante que geralmente ginguba (amendoim), biltong (carne seca), frutas secas e qualquer tudo o resto que pudessemos comer. Mais tarde na viagem o açucar também jogou um papel importante na nossa dieta.

14d. Lolipop lunch.JPG

Sem comida: Por causa de questões logísticas, acabamos mesmo por ficar sem comida no dia em que precisavamos de remar 50Km até a Barragem de Capanda. Cá estamos nós a degustar o nosso único item para a refeição que nos daria forças para suportar 10 horas de remo.

14e. Lunch photo.JPG

Compras nas minas de diamantes: Em alguns dias, foi possível nos abastecermos de uma fonte improvável. Muitas das minas de diamantes suspeitas ao longo do Kwanza tinham pequenas lojas de produtos básicos. O item mais valioso da nossa lista de compras? Refrigerantes (especialmente se estiver bem gelada!)

14f. Sunset with boat at malanje bridge.JPG

Dias longos: Por razões de segurança não remávamos à noite. A nossa maior preocupação era encontrar hipopótamos, rápidos e barreiras feitas pelos pescadores. Evitar todos estes obstáculos requer boa visibilidade. Por esta razão, todos os dias de kayak foram uma corrida contra o relógio, chegar ao nosso local predefinido de acampamento antes do sol se por.

15.  Obstacles (fishing dam).JPG

Não podem passar: um dos problemas que não previmos e nem foi possível ver por fotografias de satélite foram as barragens artesanais para a pesca. Tivemos que dar a volta carregando o kayak à volta destas estruturas de madeira que representavam um perigo grave.

17. sunken klepper.JPG

Woops! Afundamos o Klepper: Infelizmente para nós, a nossa sorte eventualmente acabou quando navegando pelas barreias de pescadores. Fomos empurrados para esta barreira de lado por alguns rápidos e o barco afundou. Perdemos muito equipamento incluindo electrónicos e as minhas botas para caminhada. Felizmente, havia vários pescadores por perto que nos ajudaram a recuperar o Klepper.

18. Fixing up the kayak.JPG

Concertando o Klepper: A força da água que empurrava o Klepper contra a barreira partiu-lhe como um palito. Quase um terço das partes foram danificadas gravement, mas felizmente o exterior não se rompeu (que não teria concerto). Tivemos que fazer uma pausa na cidade mineira de Camacupa para lidar com o problema. Cá está o Alfy explicando ao carpinteiro local exactamente o que precisava de ser reparado e como.

19. Getting advice diamond miners.JPG

Conectando com os mineiros: Outra coisa boa da paragem em Camacupa foi o facto de podermos conversar com os mineiros que trabalham no rio. Eles nos deram uma série de bons conselhos sobre os obstáculos por vir como rápidos e quedas de água. Amilton (na foto acima a direita) até nos deixou dormir na casa dela naquela noite. Este tipo de generosidade e hospitalidade foi comum ao longo da viagem.

20. Me taking photos.JPG

Reduzindo o peso: Depois de afundar, reavaliamos que equipamento realmente precisávamos no Klepper para completar o percurso, e entregamos uma muito deste equipamento à HALO trust para o guardar com segurança. Uma das vítimas foi a minha máquina fotográfica DSLR que era muito pesada para ser levada por mais 800 Km. Cá estou eu a usá-la para tirar algumas fotos numa base militar onde acampamos!

21. Blisters.JPG

Odeio andar:Durante o “naufrágio”, as minhas botas confortáveis flutuaram e perderam-se pelo rio, para nunca mais serem vistas. Pelos vistos, ninguém em Angola parece ter pés maiores que o tamanho 10, o que foi um problema pois o meu pé é tamanho 11.Isto significava fazer as secções seguintes de caminhadas em calçado comprado à pressae que era pequeno demais para mim. O resultado foi muito doloroso e causou problemas para o resto da expedição.

22. Waving to diamond mine.JPG

Não, nós não queremos comprar diamantes: Quanto mais avançávamos no nosso percurso, mais surpresos ficávamos com a escala da exploração de diamantes ao longo do Rio Kwanza. Embora fossem desconfiados à partida, todos os mineiros foram muito amigáveis e ficavam maravilhados ao saber da nossa viagem. Na foto vê-se alfy acenando para alguns mineiros que nos tinham vendido algumas latas de Coca-Cola.

23. Diamond road.JPG

Exploração mineira é um desastre para o ambiente: Embora os mineiros sejam boas pessoas, o que eles fazem ao ambiente não é! Enormes extensões de terra à beira próxima do rio foi queimada, demolida e poluída em busca de diamantes.

24. Diamond miners.JPG

Cuidado com as corda de roupa. Nos trechos superiores do rio, era pequeno suficiente para se ter acesso ao leito do rio onde os diamantes são encontrados. Mais abaixo, os mineiros esticam um cabo que atravessa o rio e suga os sedimentos do rio usando um barco com um gerador para bombear. Isto foi outro tipo de obstáculo com o qual nos devíamos preocupar e evitar.

25. Local guides (against hippos).JPG

Hipopótamos, hipopótamos em todo o lado: Hipopótamos eram vistos regularmente durante o trajecto. Vimos pelo menos cinquenta e passamos por muitos mais que se escondiam de nós. Geralmente eram muito evasivos por causa da caça furtiva, no entanto, ainda representavam um risco se cruzássemos no seu caminho pois ao tentar escapar da margem do rio para a parte mais profunda. Por acaso encontramo-nos com um par de hipopótamos muito agressivos numa noite. Os pescadores tiveram de nos escoltar à volta deles e mostrar o que fazer caso nos atacassem.

26b. Us in tree (hippo).JPG

Subir as árvores: A estratégia era simples: chegar até à árvore mais próxima, subir até que os hipopótamos se cansassem e fossem embora! Cá está um dos machos de olho em nós antes de nadar para longe 20 minutos mais tarde.

26. Good hippo shot.JPG

Mestres de desfarce: Para animais tão grandes, os hipopótamos são na verdade muito difíceis de se ver. Nunca vimos um hipopótamo por completo enquanto estivemos à beira do rio, e eles misturam-se com os caniços muito bem. Geralmente tudo que vemos é a cabeça fora da água, e depois é preciso decidir rapidamente se é de facto um hipopótamo ou um pedaço qualquer flutuante. A forma de descobrir se são ou não é pela respiração. Quando vêm à superfície parecem que um compressor de ar foi ligado!

27. kayaking with an audience.JPG

Sem hipopótamos, mais pessoas: Quando chegamos à barragem de Capanda sabíamos que não haviam mais hipopótamos, que foi um grande alívio. Havia também mais pessoas na zona, que se somou à nossa sensação de relativa segurança depois de estarmos isolados por tanto tempo. Muita gente se juntava sempre que saíssemos do rio com o Klepper.

28. Building Klepper.JPG

Como magia: Uma actividade favorita pelas comunidades angolanas ao longo do rio era ver o alfy montar o Klepper. Ninguém alguma vez acreditou que os nossos treze sacos verdes tinham um barco grande, até que o terminássemos de montar. Por alguma razão, eles gostaram muito do leme, que era controlado por pedais.

28b. Duc tape on boat.JPG

Capitão, ela não aguenta muito mais!: Um mês depois de ser raspada, os rápidos tiveram os seus efeitos no Klepper, o querido do Alfy. Durante os últimos 17Km de rápidos e cachoeiras os furos foram aumentando e entrava cada vez mais água. Nada que um bocado de fita cola não possa resolver! Acho que houve um total de nove furos reparados na parte inferior até chegarmos finalmente ao Kwanza Lodge.

29. Hiking with kayak parts.JPG

“Portage” significa “muito pesado” em francês: Algumas secçoes do rio Kwanza não são navegáveis, e para estes pedaços precisávamos de sair do rio e andar. Para manter o “Guinness World Records” contente, foi muito importante que carregássemos o kayak com a nossa própria força até ao próximo ponto navegável do rio. O Klepper pesa cerca de 55 Kg e tínhamos que carregá-lo em secções. O carrinho nem sempre pôde ser usado por causa das variações do terreno, por isso às vezes tínhamos mesmo que o carregar às costas.
(Portage é o termo usado para o acto de carregar um barco fora de água entre dois lugares navegáveis).

30. Portage.JPG

Aposto que o Stanley nunca teve que fazer isso: Para secções pequenas em que carregávamos o kayak, como por exemplo à volta desta queda de água, não fazia sentido perder tempo a desmontar e remontar o Klepper, era mais fácil pegar e carrega-lo às costas. Estes eram sem dúvidas os meus momentos menos preferidos da viagem.

31. Large rapids.JPG

Mais vale prevenir que remediar: vou admitir que carregar o kayak era preferível do que sair disparado a voar uma destas cascatas. Os moradores locais disseram-nos que dois kayakers sul-africanos morreram nesta em particular há alguns anos.

32. Leading the kayak through small rapids.JPG

Conduzindo o kayak: uma escolha feliz entre carregar o kayak em terra e navegar os rápidos era sair e guiar o kayak pelos rápidos. Sem qualquer peso dentro, a folga era grande embora ainda nos tivéssemos que preocupar em raspar em rochas afiadas. Aparentemente, os crocodilos nao vivem nos rápidos… aparentemente.

32b. Video update in police cell Capanda.JPG

Ser preso: Cá estou eu a fazer uma actualização em video sob custódia da polícia em Capanda (nao fazia a mínima ideia por que não tinham confiscado as nossas máquinas de filmar imediatamente!) Tínhamos escrito muito sobre isso, mas tendo já conseguido escapar de hipopótamos, crocodilos e quedas de água, foi uma ameaça inesperada à expedição.

33. Police station.JPG

Já amamos a polícia: Apesar de tudo que aconteceu em Capanda, depois Malanje, seguido de Luanda a maioria dos serviços de segurança e oficiais do governo com que nos encontramos foi bastante “acolhedora” e útil. Cá estamos nós a acampar numa estação de polícia na ponte de Malanje. Isto não era incomum!

34a. Hanging out with police.JPG

Não, realmente: Aqui estão alguns dos populares de Soma Kuanza que nos ajudaram a encontrar um ponto de entrada para o rio. Eles também nos deixaram acampar no quintal da esquadra de polícia. Eu acho que a mensagem no geral é de agradecimento a todos que ajudaram e que se lixe a minoria que tentou acabar a nossa viagem prematuramente!

35. DSCF2683.JPG

Acabou!: Foi um grande alívio terminar, não só porque estávamos cheios de fome e sabíamos que havia um almoço buffet à espera no Kwanza Lodge. Foi um grande desafio e muitas coisas poderiam ter dado para o torto. Foi magnífico passar linha de chegada e receber um update de quantas pessoas doaram generosamente ao Halo Trust!